sexta-feira, 28 de março de 2008

Natália Correia (13 de Setembro de 1923 - 16 de Março de 1993)




Estávamos em 1982 e a Assembleia da República debatia a despenalização do aborto.
O então deputado do CDS, João Morgado, argumentou: «O acto sexual é para ter filhos».
No plenário estava a poetisa Natália Correia (na altura deputada do PS) que tendo alguns defeitos, como qualquer um de nós, tinha acima de tudo um espírito livre, que de imediato subiu à tribuna para responder com um poema muito original, que obrigou à interrupção dos trabalhos, enchendo de gargalhadas o parlamento e de vergonha o seu colega de bancada, que ainda hoje é recordado por este caricato episódio.



Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o orgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

(Natália Correia - 3 de Abril de 1982 )

Sem comentários: