terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Varicela - CAPITULO II

Fomos ao CATUS

A minha mulher decidiu que devíamos ir ao CATUS (Centro de Atendimento de Urgências) de Torres Vedras, que fica mesmo ao lado do Hospital.

Presumivelmente lá, além de atenderem a nossa filha, também certamente iam passar a declaração para entregar no infantário, bem como passar um Atestado para o papá ou mamã.

Chegando ao CATUS, constatei que tivemos sorte eram 21.20 (fechava às 21.30 horas). Fomos logo encaminhados para um gabinete onde uma Senhora Doutora Espanhola nos esperava, sentadinha por detrás de uma secretária, já prontinha para ir à vidinha dela.

Pareceu-me logo que a sorte tinha sido de pouca dura.

Explicámos o que nos tinha levado àquele serviço, numa noite de chuva, mas a senhora não perceber nada do que estávamos a falar. Mostramos algumas borbulhas, dissemos que no infantário da nossa filha havia sete casos de Varicela e que julgávamos que ela tinha contraído o maldito vírus, mas a senhora continuava ali sentadinha a sorrir.

A certa altura, lá entendeu que só nos íamos embora, deixando-a assim ir também à vidinha dela, se olhasse melhor para a garota.

Pediu para a despir… depois olhou para a criança e pediu para a voltar a vestir (tudo isto sem tirar o rabo da cadeira). Abriu uma gaveta, remexeu outra, mostrando um ar atarefado, como se estivesse à procura de algo que só os médicos sabem o que é, desencantando finalmente uma caneta.

Pegou no Livro de receitas… e escrevinhou ATARAX. De seguida disse para dar-mos três vezes ao dia uma colher de sopa daquele Xarope e qualquer coisa com Betadine, que não percebi.

- Certo! Obrigada! Agora necessitamos de uma Declaração para o Infantário e um Atestado para um dos pais!

Acho que isso foi um pedido herético, um insulto, segundo a cara da Senhora Doutora Espanhola prontinha para ir à vidinha dela. Porque ela não podia passar nada disso, não era com ela, não tinha autorização.

A declaração e o Atestado tinham que ser passados pelo médico de família.

- Mas nós não temos médico de família! – Disse a minha mulher.

- Então como fazem quando ficam doentes? – Perguntou a Senhora Doutora Espanhola que continuava a não poder ir à vidinha dela, por causa de dois tugas e da filha.

- Nós nunca ficamos doentes! – Respondeu a minha mulher com ironia.

A Senhora Doutora Espanhola, levantou-se (pela primeira vez desde que tínhamos entrado no gabinete), pediu para a acompanhar-mos e saiu da sala.

Dirigiu-se ao balcão de atendimento, falou com a senhora que lá estava e finalmente seguiu à vidinha dela, deixando-nos com a senhora do balcão de atendimento.

Simpatia não faltava à Senhora (mas só isso não basta)!

Explicou-nos que a Declaração e o Atestado tinham que ser passados pelo médico de família, recomeçando a conversa de surdos, em que a minha mulher voltou a informar que não tinha-mos médico de família.

A Senhora tinha mais duas formas de resolver o problema:

1ª A minha mulher deveria ir com a minha filha no dia seguinte ao Centro de Saúde da Silveira, e dizer à administrativa que estivesse de serviço, que tinha estado no dia anterior à noite no CATUS de Torres Vedras, onde a filha teria sido consultada, e que necessitava de uma Declaração e um Atestado.

2ª Voltar no dia seguinte com a minha filha ao CATUS, para sermos atendidos por um colega da Senhora Doutora Espanhola que entretanto já devia ter ido à vidinha dela, e que esse sim poderia passar a Declaração e o Atestado.

Ora bem, ambas as soluções tinham problemas, ora vejamos…

No dia seguinte, que seria Sexta-feira, eu iria trabalhar e a minha mulher iria de transportes públicos com uma criança doente para um centro de saúde apelar a uma administrativa, para que tivesse a gentileza de passar uma Declaração e um Atestado médico, não havendo qualquer garantia, mesmo depois de todo o desconforto provocado, a uma criança doente e a uma mãe que teria de andar uns quilómetros a pé, e apanhar dois autocarros, carregando durante esse tempo todo uma criança ao colo, de o apelo ser satisfeito. O mais certo seria ter que ficar horas e horas no centro de saúde à espera que algum médico tivesse uma vaga para consultar a criança e depois, sim… passar a Declaração e o Atestado.

Quanto à segunda… não entendi como é que um colega da Senhora Doutora Espanhola, podia passar a Declaração e o Atestado no dia seguinte e a Senhora Doutora Espanhola não (estas coisas também não são para ser entendidas).

Já agora aproveito para perguntar, pode ser alguém me saiba responder a esta questão, como é que o Ministério da Saúde contrata pessoas que segundo parece são médicos, mas que não sabem falar português?

Tento-me convencer que devem ser profissionais extraordinários! Basta-lhes olhar para o doente e sabem de que padece e qual o tratamento que lhe devem administrar.

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