segunda-feira, 21 de abril de 2008

F.C. Porto-Benfica, 2-0


A humilhação não chegou a ser gorda, mas foi cruel. O F.C. Porto ganhou com toda a justiça num jogo em que nem foi propriamente brilhante. Durante algum tempo deu mesmo a sensação de estar mais preocupado em fazer a festa do que outra coisa. Entrou em campo em ritmo descontraído, divertiu-se com os olés que se soltaram desde o apito inicial, marcou no primeiro remate e colocou a cabeça adversária no cepo.

Nessa altura sorriu. O que foi um mau princípio. Sobretudo porque perdeu competência. Se existe palavra que define esta equipa é exactamente essa: competência. Quando não é competente, este F.C. Porto não é o F.C. Porto. Pois durante um período largo de tempo não preencheu os espaços como costuma fazer, não colocou em campo os automatismos quase mecânicos, não explorou a linha de fundo. Enfim, não foi competente.
Com isso adiou a festa. Permitiu que o Benfica, alimentado pela fúria da humilhação (a humilhação suprema, sublinhe-se, porque os encarnados têm acumulado humilhações), saísse a jogar, tivesse posse de bola, acreditasse que era possível evitar a derrota. Verdadeiramente nunca mostrou argumentos para isso, mas chegou a acreditar. Em dois ou três remates chegou mesmo a colocar o guarda-redes Hélton sobre pressão.

Um Benfica que se colocou a jeito... há muito tempo.

O problema do Benfica não foi esta noite, de resto. O problema do Benfica vem de longe. Não foi no Dragão que a equipa se colocou a jeito para ser humilhada. A exibição encarnada foi aliás o somatório de todas as frustrações vividas durante a época. Era quase impossível os jogadores fazerem melhor do que fizeram. Até porque o maior adversário nunca foi o F.C. Porto, o maior adversário do Benfica foi o próprio Benfica.



Foi a ausência de uma linha de rumo, de uma ideia de futebol, de uma coerência dentro de campo. O jogo encarnado vive da capacidade individual de dois ou três jogadores que valem mais do que a equipa deixa mostrar. Era impossível fazer mais, por isso. A entrada de Cardozo foi sintomática. O paraguaio pareceu dizer a Di Maria que devia ir para a direita, para o lugar do substituído Maxi Pereira, enquanto ele ficava no ataque.

Di Maria não compreendeu e ficou a perguntar o que fazia. Claramente desorientado. Rui Costa disse-lhe para ficar no meio, que ele próprio iria para a direita. Rodriguez disse-lhe depois para ir para a esquerda, que ele ficaria no meio. A coisa ficou assim, mas dois minutos depois ainda se discutiam posições. Chalana dava indicações do banco, mas deu a sensação que estrutura nunca chegou a compor-se. Vale tudo, até mandar chamar a polícia.

Por isso é justo dizer que a primeira parte do F.C. Porto foi um golpe de misericórdia. A equipa podia ter feito muito mais, mas pareceu não estar para aí virada. Na segunda metade, aí sim, fez regressar a festa. Com todo o esplendor que merece. Marcou mais um golo, outra vez por Lisandro (ele que já tinha feito o primeiro e colocou-se cada vez mais como goleador do campeonato), e desperdiçou mais meia-dúzia de oportunidades.

A equipa percebeu que se queria aproveitar a oportunidade para brindar as bancadas cobertas de entusiasmo até às orelhas tinha que fazer por isso. E fez. Esteve mais rápida, mais acutilante, mais séria. Sobretudo após a entrada de Mariano a equipa cresceu que se fartou. Nessa altura colocou a descoberto todas as fragilidades encarnadas e soltou a festa das bancadas. Afinal de contas era isso que os adeptos queriam.

O resultado não engordou mais do que isso, mas nem foi preciso. Até final só deu festa. Começou tarde, mas ficou sem hora para acabar. Os adeptos do F.C. Porto saíram do estádio de sorriso nos lábios, provocado também pela despedida ao som do «Chamem a polícia», dos Trabalhadores do Comércio. Enfim, deu para tudo. O Benfica, repete-se, colocou-se a jeito. Durante vários minutos descarregou a fúria sobre o árbitro, mas Bruno Paixão foi o menos culpado.

Crónica de Sérgio Pereira

Tirada do Site MAIS FUTEBOL








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